Palavras do Mestre dos Mestres

Palavras de despedida do Professor Antonio Lopes de Sá no X Prolatino, realizado em novembro de 2009.

“Eu não sei quanto tempo de vida me resta. Quem me criou também determinará, naturalmente, a hora em que serei convocado para outras missões. Posso ver, nesse poente da vida, muitas coisas. Eu dediquei feriados, dias santos, horas que roubei da família para dedicar a vocês. A minha última palavra é: “Enquanto um sopro de vida me restar, ele será de vocês”. Não sou candidato a nada. Não é discurso político, mas quero estar no coração de vocês”.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PanAmericano: Auditores na berlinda

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Época Negócios

seg , 15/11/2010

Alexandre Teixeira


Há diversos focos de perplexidade e preocupação no mercado, na esteira das fraudes descobertas na contabilidade do banco PanAmericano. De longe, porém, a maioria se concentra no vacilo das firmas de auditoria que aprovaram as contas da instituição financeira.

 

Pelo volume das operações de crédito de um banco, sua checagem pelos auditores é feita por amostragem. Há o risco de que uma manobra como a descoberta - em que uma carteira de crédito é vendida a outra instituição, mas permanece na coluna de ativos do banco - passe despercebida. Mas no caso do PanAmericano as operações suspeitas são equivalentes a quase duas vezes o patrimônio da instituição. Daí a dificuldade do mercado em entender como não se percebeu que havia algo errado.

 

Uma prática de auditoria deveria identificar um "erro" contábil tão evidente. Chama-se circularização. É o envio de uma correspondência a uma fonte externa, pedindo para confirmar um débito ou um crédito à empresa auditada. A medida tem dois objetivos: comprovar que o saldo é correto e testar a eficiência dos controles internos. Levando em conta que o caso do PanAmericano envolve cerca de 35 mil operações de crédito, a probabilidade de que um problema fosse detectado era enorme.

 

No caso da venda de uma carteira de Crédito Direto ao Consumidor para um banco maior, o auditor deveria consultar a instituição financeira compradora.

 

Quem estava no mercado em 1995 lembra-se de que a fraude que dizimou o Banco Nacional era semelhante. E que era a KPMG quem o auditava. A firma, porém, foi acusada de terceirizar a circularização para a auditoria interna do banco, que fraudaria as respostas das fontes externas supostamente consultadas.

 

No caso do Nacional, contas externas eram reativadas, e concedia-se crédito para seus titulares - tanto pessoas físicas como jurídicas. Desse modo, o banco inflava o "contas a receber" de seu balanço.

 

A auditora do PanAmericano é a Deloitte. Mas a KPMG foi contratada pelo Banco Fator (que assessorou a CEF na compra de sua participação) para fazer uma due dilligence nas contas do banco. E, teoricamente pelo menos, uma due dilligence é muito mais profunda que uma auditoria de rotina. Ela é feita para confirmar a existência de ativos e procurar passivos eventualmente escondidos, conforme explica Julio Sergio Cardozo, professor do MBA de gestão financeira, controladoria e auditoria da FGV. 

 

Mas as firmas de auditoria não são as únicas responsáveis por esse tipo de supervisão. O BC tem culpa no cartório. Afinal, monitora o sistema financeiro nacional e tem condições de controlar as operações de compra de carteira. É verdade que, formalmente, essa responsabilidade nunca lhe foi atribuída. Mas o caso do PanAmericano pegou tão mal que o BC planeja mudar a legislação para evitar fraudes com a venda de crédito.

Outro foco de inquietação diz respeito ao investimento feito pela Caixa Econômica Federal no ano passado para adquirir 49% do capital do banco de Silvio Santos. Para dizer de forma branda, é antinatural a Caixa ter comprado metade de uma instituição que não lhe agrega nada do que normalmente se procura numa aquisição.

Dada a desproporção entre o tamanho da gigante estatal e do banquinho médio, não é por capilaridade que o PanAmericano lhe interessava. Nem por lhe abrir qualquer canal novo de distribuição de produtos financeiros. Pode-se descartar, também, os demais motivos usuais: gente qualificada, domínio de mercados, produto inovador. Para não falar em afinidade cultural.

 

É uma situação radicalmente diferente da que se viu quando o BB comprou a Nossa Caixa. Aquela operação fazia todo sentido, visto que o banco estatal de São Paulo tinha uma proeminência no mercado paulista que faltava ao Banco do Brasil.

 

Mais uma vez, sobram críticas também às agências classificadoras de risco, como Moody?s e Fitch, que concederam nota máxima ao PanAmericano.

 

E esquenta a discussão sobre o modo de atrelar o pagamento dos gestores aos resultados das empresas onde trabalham. A respeito da afirmação, feita neste blog pelo investidor Lirio Parisotto, de que a culpa pelas fraudes deve ser atribuída a prêmios oferecidos a executivos por lucros de curto prazo, o PanAmericano diz que não paga bônus a diretores. Curiosamente, porém, Silvio Santos afirma que uma "maquiagem" ocultava o déficit no banco, numa malandragem de seus executivos para "garantir seus prêmios".

 

Há, por fim, o temor de que as fraudes do PanAmericano sejam apenas as primeiras a aparecer publicamente. Gente com décadas de experiência em auditoria adverte: a descoberta de um jeito de fazer dinheiro aproveitando uma brecha nos controles nunca é um caso isolado. Não por muito tempo.

 

Fonte: CFC

 

 

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