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De São Paulo
Não foi fácil convencer Pedro Malan a assumir uma das cadeiras de curador da fundação que supervisiona as normas internacionais de contabilidade, um assunto que ele dizia não dominar. Mas o ex-ministro parece ter aprendido rápido. A seguir, trechos da entrevista concedida ao Valor:
Valor:A queda de arrecadação preocupa?
Pedro Malan: Quero fazer uma distinção entre o passado e a situação que estamos vivendo e a que virá. No início eram pedidos feitos a empresas para que elas voluntariamente contribuíssem. O que está acontecendo agora é uma busca de formas mais estruturadas, mais organizadas de contribuição. A França propôs a adoção de uma taxa, cobrada pelos seus órgãos reguladores das empresas que estão listadas na bolsa. A União Europeia deve fazer isso, o Japão está fazendo coisa semelhante.
Valor:Em que pé está essa negociação no Brasil?
Malan: Estamos conversando, não tenho condições de avançar nada, mas acho que existe uma clara percepção de que esse é o caminho a seguir, que não se pode ficar dependendo dos favores de algumas poucas empresas privadas.
Valor:As conversas são com o BC e a CVM?
Malan: Não posso dar detalhes, mas sei que eles estão analisando. O que eu tenho feito é disponibilizar o que outros países estão fazendo. A Mary Schapiro [presidente da Securities and Exchange Commission, órgão regulador do mercado americano] me disse que vai fazer uma proposta. Temos responsabilidade, porque somos um dos países mais relevantes nessa questão, seguramente o que mais vem avançando na América Latina. Temos que pensar as formas mais efetivas de
Valor: Não impede que alguma empresa possa colaborar...
Malan: Não, mas eu preferiria que essa forma voluntária de contribuição fosse direcionada ao CPC [Comitê de Pronunciamentos Contábeis], um grupo de extraordinária qualidade que poderia estar funcionando de maneira mais estruturada e organizada.
Valor:A tendência é a taxação de empresas abertas?
Malan: Cada país tem uma história diferente. O fato é que todos estão buscando uma forma de contribuir de maneira mais permanente, que não fique ao sabor de doações voluntárias.
Valor:Quais foram os efeitos da crise financeira sobre o Iasb?
Malan: Há um esforço para estreitar o relacionamento entre reguladores e normatizadores, na medida que estamos caminhando para a convergência contábil. O processo de convergência do Iasb com o Fasb [que emite as regras americanas] foi acelerado. Está em audiência publica a simplificação do IAS 39, sobre instrumentos financeiros, tentando reduzir as categorias e a complexidade. Em suma, aumentou muito a quantidade de trabalho, mas também os desafios intelectuais envolvidos.
Valor:Era o que o sr. esperava?
Malan: Quando o [Paul] Volker me convenceu a aceitar o convite, a crise já estava claramente configurada e o argumento dele é que a situação exigiria a experiência de outras pessoas que não apenas contadores e auditores. Você olha a composição do conselho e vê alguns macroeconomistas de extraordinário calibre, como o italiano Luigi Spaventa, que acabou de escrever um "paper" extraordinário sobre as mudanças que a crise está trazendo para a economia, a regulação e a supervisão [www.voxeu.org]. É um grupo muito bom, estou muito satisfeito. O trabalho é desafiador.
Fonte: Valor Online
(NN)
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